quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A linguagem do choro.



É nos primeiros anos de vida que muitas crianças frequentam as creches e pré-escolas. Nesse período nossa dependência do outro constitui uma peculiaridade especial do desenvolvimento (Wallon, 2007). Ela vai se
transformando gradualmente, à medida que a criança vai conquistando novas formas de ação. 
Desde bebês possuímos certa organização comportamental e algumas condições para perceber e reagir às situações exteriores, principalmente aos parceiros diversos que formam nosso meio humano. É na relação com os outros que vamos compreendendo o mundo, dando significado para as ações, dominando formas de agir, pensar e sentir presentes em nosso meio cultural, desenvolvendo a capacidade de expressão e de linguagem.
Tomemos como exemplo o comportamento do bebê em seus primeiros meses de vida. Inicialmente ele chora em reação a diferentes incômodos e ajustes orgânicos: cólicas, sono, fome, necessidades de higiene etc. Os adultos responsáveis pelos cuidados com o bebê reagem ao choro e tomam atitudes para ampará-lo, oferecendo-lhe alimento, colo, trocando suas fraldas etc. 
Pouco a pouco, o bebê percebe que sempre que chora obtém a atenção de seus objetos de afeição. Começa então a chorar não mais como ação reflexa: agora seu choro se torna intencional, isto é, ele chora para obter a atenção desejada e a resolução de seus desconfortos. Depois de algum tempo, podemos até diferenciar quando o choro indica fome, ou sono, ou
apenas necessidade de proximidade física. Não apenas o bebê vai controlando seu choro (mais intenso, mais alto), como também os adultos que se relacionam com ele vão aprendendo, na interação, a diferenciar suas formas de expressão e construindo junto com ele novos e diferentes significados, tanto para o choro quanto para os demais gestos expressivos que a criança vai desenvolvendo. 
Vale destacar que a forma como o adulto vai compreender esse choro será fundamental para que a criança vá também atribuindo sentido às suas sensações. Para ela, embora reconheça o desconforto físico, a discriminação entre o que exatamente “está lhe incomodando” não é clara. Se por acaso o adulto reage ao choro do bebê, achando que sempre que ele chora é porque está com fome e o alimenta, é provável que o bebê comece a associar suas sensações desconfortáveis àquela forma de conforto apresentada pelo adulto (ao alimento, nesse caso).
Por isso é importante investigarmos as expressões infantis, tentando compreender os diferentes significados que se expressam em seus comportamentos. Será por meio de nossa ajuda que, desde muito cedo, o bebê irá compreender e dar sentido ao que sente e vive. Podemos mesmo dizer que nascemos disponíveis para o contato com o outro e dependemos dele para nosso desenvolvimento. 
O aprendizado da convivência é potencializado nos espaços de educação infantil. É nesses locais que privilegiadamente poderemos aprender a negociar com o outro, reconhecer os diferentes pontos de vista, lidar com conflitos de interesse, promover situações cooperativas, internalizar regras, trocar afeto etc. No ambiente das creches e pré-escolas as crianças poderão ter múltiplas oportunidades de se relacionarem, desenvolvendo formas de comunicação variadas.E também de vivencia os diferentes desafios que a convivência põe em cena. Vimos então que a imitação é uma forma de conhecer o outro, de compreender formas de se relacionar e expressar a partir da vivência com os parceiros, sejam crianças ou adultos. Será a partir da interação que as crianças descobrirão formas socialmente construídas de estar juntas, comunicar-se, elaborarem regras coletivas. É o encontro com o outro que dispara nosso desenvolvimento.

Fonte:http://portal.mec.gov.br/ - Revista Criança, Nº 46, pag.12.






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